Novos rumos na política

Meses antes de Jair Messias Bolsonaro (PSL) ser eleito presidente do Brasil, os principais líderes do cooperativismo brasileiro elaboraram o documento intitulado Propostas para um Brasil Mais Cooperativo. O material – entregue às assessorias de todos os presidenciáveis que disputaram as eleições 2018 – traz uma série de propostas defendidas pela base cooperativista. Falamos sobre a importância de estimular a geração de trabalho e renda por meio do empreendedorismo coletivo, da desburocratização e do estímulo ao desenvolvimento local, possibilitando a circulação de riquezas e serviços em cidades de todos os portes. Analisamos os desafios de uma política consistente de segurança alimentar.

Mostramos por que é preciso criar um ambiente favorável ao empreendedorismo via cooperativas e como podemos contribuir para a construção de um futuro melhor para todos os brasileiros. “Deixamos esse documento à disposição dos candidatos à Presidência da República, para criar um ambiente favorável ao diálogo com eles”, explica Fabíola Nader Motta, gerente de Relações Institucionais da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). “Agora, com o novo governo definido, vamos continuar essa conversa com o presidente eleito e com os ministros indicados por ele, visto que nosso modelo de negócios tem plenas condições de ajudar o Brasil a crescer de forma responsável e sustentável.”

As propostas apresentadas pelas cooperativas brasileiras são uma construção coletiva que envolveu 1,3 mil lideranças cooperativistas. Juntas, elas representam os 13 ramos do cooperativismo nas 27 unidades estaduais. Mais: representam mais de 14 milhões de cooperados que fazem parte das 6.887 cooperativas brasileiras.

“Nosso foco central, hoje, é o reconhecimento da importância do cooperativismo. As instituições precisam conhecer o setor, entender o papel das cooperativas na agenda estratégica do país e o impacto positivo que geramos na sociedade”, explica Fabíola. O cooperativismo é reconhecido pela Organização das Nações Unidas como o modelo de negócios que mais colabora com a superação de crises econômicas.

“Nossa forma de empreender, construída em grupo e sem deixar ninguém para trás, é mais eficaz que o empreendedorismo individual em momentos de recessão”, explica a gerente de Relações Institucionais da OCB. Ela acrescenta que as cooperativas também são uma ótima forma de geração de trabalho e renda para a população.

Atualizar a imagem do cooperativismo é outro grande desafio do nosso sistema. Por isso, o documento Propostas para um Brasil Mais Cooperativo foi construído com a mesma linguagem do movimento SomosCoop, que busca despertar a consciência das pessoas para a importância do cooperativismo, adequando-as aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) em que as cooperativas podem ser protagonistas (veja quadro).

Por que o novo presidente precisa nos conhecer melhor?

“O cooperativismo é um motor capaz de alavancar o desenvolvimento do país”. A frase é de Emerson Masullo, cientista político e especialista em políticas públicas. “Tenho fortes convicções de que o governo de Jair Bolsonaro deve trazer na sua agenda econômica um diálogo permanente com o cooperativismo. É uma condição indispensável para reverter o cenário econômico atual e promover melhorias na geração de empregos e índices de produtividade, além de questões fiscais e trabalhistas.”

Masullo explica que o cooperativismo é uma forma de associativismo que possui um viés social muito importante. “As cooperativas trazem resultado econômico sem abrir mão do cuidado com a comunidade que as rodeiam. Essa é uma forma de organização que nenhum governo pode deixar de olhar”, acredita o cientista.

“O novo presidente está montando uma base de governo desenvolvimentista, que tem tudo a ver com o cooperativismo. Certamente, terá um diálogo constante e permanente com o setor”, considera Masullo. A opinião do cientista político é compartilhada por quem vive, na prática, da cooperação. Derci Cenci é diretor-secretário da Cooperativa Agropecuária do DF (Coopa-DF), localizada na região administrativa do Paranoá, a 60 km do centro de Brasília. “O cooperativismo dá às pessoas a oportunidade de crescer de forma conjunta. Sozinhos não encontramos as oportunidades que o cooperativismo traz”, afirma.

A Coopa-DF foi criada em 1978, por famílias que vieram da Região Sul e tinham (e têm) o objetivo de trabalhar em conjunto no ramo agropecuário, embora cada um em sua área. “Chegamos em busca de trabalho e união, com o intuito de realizar um sonho que seria mais trabalhoso se fosse feito de maneira individual. Devagarinho, a Coopa-DF tornou-se menina-moça, debutou, casou-se e já é quase vovó”, conta Cenci.

COOAPA-DF

Hoje, a Coopa-DF tem 156 associados. Cada produtor tem a sua área, a maioria com irrigação. Eles produzem trigo, soja, milho, feijão e grão-de-bico, entre outros produtos e hortaliças. A expectativa é grande em relação ao governo Bolsonaro. O presidente eleito, aliás, visitou, em maio, a famosa feira organizada pela cooperativa e incentivou os cooperados a continuarem no ramo.

Ainda segundo Derci Cenci, ele estimulou-os a buscar investimentos em bancos cooperativos. Sobre o novo presidente, Cenci é otimista: “ Ele nos visitou quando era candidato, o que mostra o interesse dele pelo cooperativismo. Queremos que ele conheça melhor o poder da cooperação”, explica o diretor-secretário da Coopa-DF.

A gerente de Relações Institucionais do Sistema OCB vai além. Para ela, é necessário ampliar os canais de comunicação do cooperativismo com o Poder Público, confirmando o papel do Sistema OCB como um dos atores que devem ser ouvidos pelos órgãos governamentais nos processos de formulação de políticas públicas, regulamentos e legislações de interesse do setor. Afinal — como já mostramos nesta reportagem —, queremos e temos plenas condições de ajudar o Brasil a crescer.

Cooperativismo no Congresso

Um dos principais canais de representação e negociação para o cooperativismo é a Frente Parlamentar do Cooperativismo (Frencoop) — grupo de deputados e senadores que defendem no Congresso Nacional, os interesses das cooperativas brasileiras.

Na prática, esses parlamentares apresentam propostas de leis favoráveis ao cooperativismo, desenvolvem o diálogo com os poderes Executivo e Judiciário, e levantam a bandeira do movimento.

“As frentes parlamentares (conceito que inclui a Frencoop) têm uma forma de atuar própria dentro do Congresso Nacional”, explica Fabíola Nader Motta. “Elas possuem um poder político maior porque são formadas por grupos de parlamentares que, juntos, têm mais força para decidir uma votação.”

Fonte: Revista Saber Cooperar / Sistema OCB

 

Bruno Oliveira

Bruno Oliveira

Analista de Comunicação do Sistema OCB/RJ. Formado em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo. Pós-graduado em Jornalismo Esportivo e Negócios do Esporte, MBA em Marketing e Comunicação Empresarial e em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais.

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