Ciência em prol do cooperativismo

Quarenta e um grupos de pesquisa de 13 estados brasileiros estão dedicados ao estudo sobre o cooperativismo no país. Eles foram contemplados por uma chamada de fomento científico promovida pelo Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop) em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

A seleção ocorreu em 2018 e os trabalhos começaram a ser desenvolvidos neste ano. Eles contam com um financiamento de R$ 2,7 milhões e devem ser concluídos até 2020. A ideia é que as pesquisas resultem em dados, diagnósticos e propostas que fortaleçam e inovem o cooperativismo.

A gerente-geral do Sescoop, Karla Oliveira, conta que a escolha dos projetos priorizou quatro eixos: impactos econômicos e sociais, competitividade e inovação, governança e cenário jurídico. “Os 41 projetos foram selecionados entre 374 proponentes. O número de concorrentes nos surpreendeu. Percebemos que havia uma demanda reprimida de financiamento de estudos nessa área”, destaca Karla.

De acordo com ela, as pesquisas têm como diferencial dialogar com os contextos enfrentados pelo cooperativismo, como as reformas trabalhista e tributária, e as novas áreas de atuação, como as cooperativas de trabalho de serviço em plataforma. “Os recursos podem ser usados para bolsas, banco de dados, desenvolvimento de tecnologias, participação em eventos, oficinas e até mesmo publicações. A ideia é que esse financiamento deixe um legado para os grupos de pesquisa e inspire novos estudos.

Simone Maria Andrade Pereira de Sá, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), coordena um dos projetos contemplados pela chamada Sescoop/CNPQ. Ela e outras três pesquisadoras estudam as cooperativas na área de música.

O projeto já foi lançado nas redes sociais e recebeu o nome de Empreendedorismo Afinado: as estratégias das cooperativas musicais brasileiras. “Percebemos que esse ambiente contribui para a reconfiguração da indústria da música. A atuação coletiva pode colaborar na reestruturação da cadeia produtiva da música local e no desenvolvimento de cenas locais que possibilitem trabalho e renda”, aponta Simone. “Pretendemos disponibilizar os dados em um mapa on-line para que as próprias cooperativas possam entender esse cenário e compartilhar informações entre si.”

A equipe de pesquisa da UFF já identificou cooperativas musicais em São Paulo, Alagoas, na Bahia, no Espírito Santo e em Minas Gerais. Só em São Paulo, são 16 cooperativas. Os recursos da chamada serão usados para a realização de entrevistas e visitas in loco. Um dos desafios é entender o perfil dos participantes e os modelos de gestão usados em cooperativas na área artística que têm a produção cultural como foco.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Novos cenários também inspiram o estudo realizado sob a coordenação do professor Adebaro Alves dos Reis, do Instituto Federal do Pará. Com o apoio do financiamento do Sescoop/CNPq, o grupo liderado por ele se dedica à pesquisa sobre cooperativismo e desenvolvimento sustentável na Amazônia Paraense.

O principal objetivo é analisar a dinâmica do cooperativismo agropecuário e sua contribuição para o desenvolvimento sustentável. Os pesquisadores querem compreender as relações existentes entre a cooperação e os impactos sociais, econômicos e ambientais nas comunidades nas quais as cooperativas estão inseridas. Também será realizado um diagnóstico sobre o perfil dos cooperados, os processos de organização, gestão e inovação tecnológica.

“Acreditamos que o cooperativismo é instrumento de inclusão e sustentabilidade. Já contribui para a redução das desigualdades no meio rural da Amazônia paraense”, avalia Adebaro. “Essa iniciativa de fomento fortalece o Grupo de Pesquisa em Cooperativismo, Economia Solidária e Desenvolvimento Rural Sustentável da Amazônia, e vai incentivar a formação de recursos humanos especializados na área do cooperativismo e do desenvolvimento sustentável.”

Mensurar os resultados de gestão nas cooperativas é um desafio que o grupo coordenado pelo professor Alex Weymer, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), resolveu enfrentar. O estudo propõe-se a fazer uma análise multinível de indicadores de eficácia de treinamento. Serão usados métodos quantitativos e qualitativos para explicar como os indicadores se relacionam e funcionam de forma integrada.

“A contribuição prática que queremos dar é um modelo que possa ser usado pelas cooperativas na hora de decidir suas políticas de gestão”, explica Alex, que integra o Grupo de Pesquisa em Gestão de Pessoas e Comportamento Organizacional do Mestrado Profissional em Gestão de Cooperativas da PUC do Paraná.

“Muitas vezes, empresas ou cooperativas investem milhões em treinamento e não sabem se esse investimento realmente se reverteu em ganhos reais para a produção ou venda. Por isso, precisamos analisar indicadores de cooperativas que tiveram os melhores retornos para entender qual é o melhor caminho.”

Fonte: Revista Saber Cooperar

Bruno Oliveira

Bruno Oliveira

Analista de Comunicação do Sistema OCB/RJ. Formado em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo. Pós-graduado em Jornalismo Esportivo e Negócios do Esporte, MBA em Marketing e Comunicação Empresarial e em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais.

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