Para presidente da Unimed Volta Redonda, na saúde não se cortam custos, mas sim desperdícios

Elevada taxa de sinistralidade pressiona planos de saúde. Cooperativa pretende fazer parceria com a saúde pública para realização de transplantes

Um ano desafiador e de muito trabalho é o que projeta o presidente da Unimed Volta Redonda, Vitório Moscon Puntel, para 2023. Segundo ele, o mercado de saúde suplementar ainda deve enfrentar um cenário de alta taxa de sinistralidade, índice que registra o quanto da receita da operadora foi consumido para cobrir as despesas com atendimentos dos beneficiários. Gestores apontam que uma taxa equilibrada precisa se manter abaixo dos 80%. Entretanto, em 2021, a média geral, segundo a Agência Nacional de Saúde (ANS), foi de 85%, e as projeções são de que tenha se mantido em patamares elevados também no ano passado. Há um consenso de que a demanda reprimida durante a pandemia ajuda a explicar esse panorama.

“De 2020 até o primeiro semestre de 2021, realmente houve uma enorme queda na demanda por serviços médico-hospitalares. Porém desde o último trimestre de 2021, houve uma explosão de demandas por esses serviços que permaneceu no ano passado”, relata Vitório, que observa que a elevada sinistralidade impõe uma dura realidade aos planos, que veem a maior parte do seu orçamento destinado ao pagamento dos serviços de assistência aos beneficiários, sobrando pouco para os demais custos das organizações, bem como para investimentos.

Outro ponto importante nessa discussão, aponta o presidente da Unimed, é a ampliação do rol de cobertura de procedimentos da ANS. A cada ano, a Agência insere na cobertura obrigatória medicamentos que não são baratos e, assim, pressionam o orçamento das operadoras. Ele cita como exemplo decisão recente da ANS, do início de fevereiro, que aprovou a incorporação de 4 medicamentos. Um deles é destinado ao tratamento de bebês com atrofia muscular espinhal (AME) e pode custar até R$ 6 milhões.

Para Vitório, não há como se opor a indicação de medicamentos que muitas vezes são a única alternativa para garantir a qualidade de vida ao paciente. “Por isso que costumo dizer que na saúde não se cortam custos, mas sim desperdícios. Toda a gestão deve ser feita para evitar o desperdício, que é justamente o gasto que não traz contrapartida de qualidade assistencial para o beneficiário. É pura perda de dinheiro”, ressalta.

No entanto, é preciso fechar as contas no fim do mês. As operadoras costumam questionar o porquê do reajuste da ANS para os planos individuais não reparar os gastos com novos procedimentos. Vitório observa que se especula que a Agência deva autorizar um reajuste de 9% nesse ano, quando no início a expectativa era de 18%. “Isso vai gerar um desequilíbrio ainda maior no setor de saúde suplementar”, avalia. Seguindo o mantra de cortar desperdícios, a Unimed tomou medidas administrativas, como renegociação de contratos e ações junto aos médicos justamente para evitar pedidos de exames desnecessários.

Nova frente de negócios e parceria com a saúde pública

Mesmo com um cenário adverso, Vitório, que assumiu a presidência em abril do ano passado, se mantém otimista, tanto que projeta fechar o ano com crescimento da carteira. A meta é superar as 70 mil vidas. A cooperativa encerrou 2022 com cerca de 69 mil vidas. “Fomos uma das poucas Unimeds do estado conseguiram aumentar o número de beneficiários em um ano tão difícil”, destaca. Ele aposta na abertura de novas frentes de negócio, como forma de gerar mais trabalho e renda para os cooperados e para a própria Unimed. Ele cita como exemplo o Saúde Domiciliar, que pretende oferecer o serviço de atendimento em domicílio aos planos de saúde da Região Sul Fluminense, além de pacientes particulares. Segundo Vitório, o modelo segue uma tendência mundial de procurar tratar o paciente em casa, destinando as dependências hospitalares a procedimentos cirúrgicos. “Os avanços tecnológicos, como as ferramentas wireless, que permitem monitorar o paciente a distância, vão ajudar muito na expansão dessa modalidade”, projeta Vitório.

A expectativa é aproveitar um mercado que ainda é pouco explorado pelas operadoras de saúde, mas que oferece a possibilidade de o paciente resolver a maior parte dos atendimentos dentro de casa e permite ao plano reduzir custos com frequentes internações. “Dependendo do caso, pode gerar uma redução de custo de até 70%”, relata Vitório. Como o atendimento em domicílio não faz parte do roll obrigatório da ANS, poucas operadoras têm a estrutura necessária. A Unimed, por outro lado, oferece o serviço há 15 anos. Atualmente possui aproximadamente 700 pacientes em gerenciamento domiciliar, sendo quase 10% de pacientes que não têm o plano da Unimed. A meta para 2023 é aumentar essa parcela em 25% a 30%. “O mercado de saúde está cada vez mais competitivo. Por isso é preciso inovar e pensar em novos modelos de negócio e produtos. Sempre colocando o paciente em primeiro lugar”, ressalta o presidente da Unimed Volta Redonda.

Ele também celebra a manutenção de investimentos, como a ampliação do parque tecnológico de oncologia, com a aquisição de equipamentos modernos de radioterapia e PET-CT. A Unimed também inaugurou, no ano passado, uma unidade de ressonância magnética no bairro Aterrado, um dos mais populosos da cidade, e uma clínica em parceria com a Nefroclínicas. Para 2023, há investimentos pensados no curto, mas também no longo. Um deles é a ampliação da central médica de esterilização do hospital de Volta Redonda, bem como a abertura da clínica de atendimento ao autismo, previsto para o primeiro semestre deste ano. Em Angra dos Reis, mercado em que a cooperativa entrou em 2018, quando comprou a Unimed local, está em andamento a ampliação da capacidade de atendimento do hospital e do Centro Cuidar. “Apesar da retração que houve com a pandemia, percebemos uma retomada em Angra. É uma região com uma forte indústria e a volta das obras da Usina de Angra 3 deve movimentar economia local”, projeta Vitório.

Há também um forte investimento com intuito de que o hospital de Volta Redonda se torne uma referência na área de transplantes. Nos próximos meses, há a expectativa de receber autorização do Ministério da Saúde para realização transplantes de fígado, rins e córneas. Em janeiro, o hospital, que desde 2012 faz transplante de medula ósseas, foi autorizado a realizar o de tecidos. Em médio prazo, Vitório planeja uma parceria com o sistema de saúde público, para ampliar o acesso ao transplante de órgãos. “Um dos preceitos do cooperativismo é influenciar positivamente a comunidade. Por isso queremos estabelecer essa parceria, para ajudar quem está na espera por um transplante”, afirma Vitório.

Bruno Oliveira

Bruno Oliveira

Analista de Comunicação do Sistema OCB/RJ. Formado em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo. Pós-graduado em Jornalismo Esportivo e Negócios do Esporte, MBA em Marketing e Comunicação Empresarial e em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais.

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