Após um processo de recomposição financeira que começou em abril de 2017, a Unimed Petrópolis começa a apontar para uma situação de estabilidade, com grande parte das dívidas quitadas, aumento na eficiência da gestão e o restabelecimento do diálogo com os prestadores de serviço. Em entrevista ao jornal Diário de Petrópolis, o presidente da cooperativa, Rafael Gomes de Castro; e o vice-presidente, César Augusto de São Thiago; prestaram contas sobre o trabalho nos três primeiros meses à frente da gestão.
De acordo com Rafael, uma das principais mudanças que estavam previstas no plano de recuperação e que foram alcançadas foi com relação à sinistralidade, que é a relação entre o que a instituição recebe de recursos dos usuários e o que é gasto com o custo assistencial. Quanto menor for o índice, maior a eficiência na gestão.
– A gente faz essa comparação porque, em 2016, o nosso índice estava em 92,8%. Isso quer dizer que, a cada R$ 100, você gasta R$ 92,80 com a assistência. Só que, em média, você tem mais de 10% de custo administrativo. Então, dá pra ver, claramente, que a conta não fechava, virava em prejuízo constante. Já em 2017, com algumas ações gerando resultados positivos, a sinistralidade fechou em 84,77%. Isso possibilitou gerar caixa e sobrar um pouquinho, e tivemos verba para renegociar as dívidas com a rede contratada – disse Rafael.
De acordo com o presidente da Unimed na cidade, praticamente todas as pendências com fornecedores e prestadores de serviço foram pagas. Apenas um caso ainda está judicializado, com o Centro de Terapia Oncológica (CTO). Mesmo assim, há uma boa notícia: as partes voltaram a conversar e há possibilidade de acordo.
Crise gerou perda de clientes
Rafael Gomes de Castro destacou que a melhora da situação financeira da Unimed se deu mesmo em um cenário de crise econômica que gerou reflexos na rede privada de saúde, com perda de 10% dos clientes. Além disso, há outro fator que aumenta os custos da operação em Petrópolis: o grande número de idosos entre a base de clientes, acima da média nacional.
– A cidade tem uma população envelhecida. Enquanto a média nacional gira em torno de 15% de idosos na composição da carteira de clientes, na Unimed Petrópolis essa composição é de 28%, quase o dobro. Isso tem impacto na geração de custos. Além disso, a maior perda de clientes foi entre a população mais jovem. Isso acontece porque os filhos deixaram de ter seu plano de saúde para poder se cotizar e manter os planos do pai, da mãe, do avô. A gente perde o conceito de mutualismo, onde alguns pagam para que outros utilizem. Você pega o percentual de pessoas que teoricamente contribuiriam mais do que utilizariam, elas dariam esse equilíbrio para aqueles que utilizam mais do que contribuem. Saindo os novos e ficando os mais velhos, você gera dificuldade assistencial de gestão nesse sentido – disse o presidente.
Valorização do cooperado
Outra ação prevista no plano de recuperação da Unimed é a valorização dos médicos que trabalham na cooperativa, questão considerada fundamental para que o plano de saúde volte a ser atrativo e amplie a quantidade de opções para o consumidor final. O valor pago pela consulta e do honorário médico teve reajuste de 12%.
Além disso, a sequência de balanços no vermelho gerava outro problema: como a Unimed é uma cooperativa, o médico tem que ajudar a recuperar as perdas no caso de prejuízo, de forma proporcional à produção.
– Havia a percepção de que quanto mais a pessoa trabalhasse, mais teria que devolver. Quando, em 2017, o Plano de Recuperação começa a dar resultado e o balanço passa a ser positivo, essa percepção muda: o cooperado pode trabalhar porque não vai precisar devolver nada – disse o vice-presidente, César Augusto de São Thiago.
De acordo com ele, essa mudança trouxe a retomada da credibilidade da Unimed junto à classe médica da cidade. Prova disso, segundo César Augusto, após a superação da crise, a cooperativa voltou a ser procurada.
– De janeiro a agosto, foram 11 novos cooperados. Estamos percebendo uma procura espontânea em diversas especialidades. A Unimed passa a ser vista tanto pelo corpo de cooperados como pelo corpo clínico médico da cidade como uma empresa atrativa, em um movimento de retorno. Isso é a percepção de consolidação do movimento de mudança na curva de tendência, que é de recuperação. Isso se consolida no meio médico – disse César.
Novos projetos
Com a casa arrumada, a diretoria da Unimed planeja novos investimentos, principalmente com relação à prevenção e ao envelhecimento saudável.
– O momento no qual estamos vivendo, de ter equilibrado o quadro financeiro, nos permite começar a criar projetos para a prevenção, para promover a saúde coletiva, que é fundamental. Vamos focar no envelhecimento, uma vez que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que 2020 será a década do envelhecimento saudável e alguns artigos demonstram que a inversão da pirâmide etária no Brasil será antecipada em 10 anos. Teremos mais idosos do que a força de trabalho jovem. Isso preocupa, porque a tendência é que haja mais pacientes com doenças crônicas generativas. Portanto, precisamos empoderar os pacientes nos seus cuidados, na conscientização daquilo que ele precisa fazer e tratar da sua doença. Se você empodera o paciente nos seus cuidados, na conscientização daquilo que precisa fazer e tratar da sua doença faz a promoção da saúde e melhora a gestão do custo assistencial de médio e longo prazo. É preciso também fazer com que a população idosa tenha aderência ao tratamento. O problema não é só ir ao médico, é aderir ao tratamento que o médico passa – disse o presidente da Unimed Petrópolis.
Fonte: Diário de Petrópolis