Com o lema “Juntos pela Vida! Todos os Dias!”, o Sistema OCB/RJ realizou no dia 23/9, em seu canal do Youtube, uma live voltada ao Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio. Assista aqui.
Na atividade, especialistas abordaram o tema e também falaram sobre depressão – causas e sintomas – e demais fatores emocionais; medicamentos; importância dos acompanhamentos psiquiátricos e psicológicos e reforçaram a necessidade de acolher o próximo e de buscar o diálogo, especialmente com aqueles que se encontram em situações-limite, a fim de oferecer carinho, amor e ajuda.
A live – que contou com as parcerias da Cooperativa de Saúde Mental e Reabilitação (Unifop), da Unimed Centro Sul Fluminense, da Unimed Federação Rio e do Centro de Valorização da Vida (CVV) – integra a Campanha Laços da Cooperação – desenvolvida pelo Sistema OCB/RJ – que a cada mês, com cores e temas diferentes, aborda assuntos para conscientizar a população sobre questões ligadas à saúde.
No início da transmissão foi apresentado um vídeo encenado pela colaboradora do Sistema OCB/RJ, Monique Neves, que de forma objetiva, expressou a necessidade de substituir o julgamento pela ajuda mútua e o olhar ao próximo.
Em sua fala na abertura, o presidente do Sistema OCB/RJ, Vinicius Mesquita, ressaltou o comprometimento da instituição em debater a prevenção ao suicídio e que a iniciativa está dentro de um dos princípios cooperativistas, o Interesse pela Comunidade.
– Cooperativismo é gente, é cuidar de gente, é valorizar a todas as pessoas. Nada melhor do que abordar este tema tão delicado de uma forma aberta, por meio de conversas e esclarecimentos. Esta live é um serviço de utilidade pública e tenho a certeza de que cumprirá seu principal papel, que é o de informar, para que possamos perceber mais o próximo e lidar com situações extremas”, disse o presidente.
Voluntária do Centro de Apoio à Vida (CVV) – associação que oferece serviço gratuito de apoio emocional e prevenção ao suicídio – Maria das Graças Araújo foi uma das convidadas da live. Ela iniciou destacando o surgimento da Campanha Nacional Setembro Amarelo, que nasceu em decorrência do Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, criado em 2003 pela Organização Mundial da Saúde(OMS).
“Em 2015, o CVV, em conjunto com o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) criaram no Brasil a Campanha Setembro Amarelo, com os objetivos de conscientizar sobre a prevenção do suicídio e dar visibilidade à causa. Aliás, o nosso país é o único no mundo a ter um mês inteiro dedicado a este tema”, explicou Graça, que lamentou a falta de uma política pública de prevenção ao suicídio e pediu mais amor ao próximo.
“ A cada ano perdemos em média 12 mil brasileiros por conta de suicídios. Esta taxa vem aumentando a cada ano. E a responsabilidade é de todos nós. A prevenção se faz com informação. Precisamos oferecer mais ajuda, sermos mais amorosos, coração com coração. Somos diferentes apenas externamente, mas iguais internamente. Pertencemos à raça humana. Devemos acolher a todos como amigos, mas, infelizmente, muitos não têm tempo para o outro”, desabafou Graça, que fundou no Rio de Janeiro o CVV GASS – Grupo de Apoio aos Sobreviventes de Suicídio ( Para pessoas que tentaram tirar a própria vida, além de familiares e amigos de quem tentou ou cometeu suicídio) e é pós-graduada em Terapia Comunitária Integrativa (TCI) pela UFMC – Universidade Federal de Medicina do Ceará.
A psicanalista, psicóloga hospitalar e presidente da cooperativa Unifop, Jociane Coutinho, comentou a respeito do conceito do suicídio e dos principais fatores que levam as pessoas a cometerem este.
“ O suicídio é um ato multifatorial. Não é repentino. Começa com ideação. Muitas pessoas começam pensando em sumir. A partir daí, muitas causas surgem e vão se sobrepondo até que chega a um ponto em que não é mais possível suportar e culmina no ato de tirar a própria vida. E um dos principais fatores é a depressão, seja por perdas financeiras, separação, violências físicas, psicológicas ou sexuais. Temos muitos grupos de risco e destaco os adolescentes – pela intempestividade e conflitos da idade – idosos, – por conta da aposentadoria e vida monótona – e profissionais de saúde- devido à pressão do trabalho”, relatou Jociane.
Ela acrescentou que o isolamento social, por conta da pandemia do Coronavírus, é mais um causador da depressão e do consequente suicídio:
“ A necessidade de ficarmos distantes uns dos outros veio de uma forma dura e agravou situações pré-existentes, somada à perda de familiares por conta da COVID-19. A pessoa também que sofre com violência doméstica e encontrava no convívio social um amparo, passou a não ter mais essa possibilidade”, alertou.
Segundo a psicóloga clínica, especialista em transtornos de ansiedade, depressão, e síndrome do pânico, Ana Claudia Vanzelli, representando a Unimed Federação Rio, “ falar é a melhor solução para evitar casos de suicídio”.
“O ouvir é poderoso, a fala é poderosa. Somos agentes transformadores. Devemos ouvir, sem julgar, devemos olhar nos olhos de cada um, respeitar, estar junto. Precisamos entender que o isolamento o qual vivemos é físico, mas não podemos nos esquecer do próximo”, pediu Ana Cláudia.
O professor em saúde da família no consultório de psiquiatria da Universidade de Vassouras, Marcelo Mendonça, falou a respeito de medicamentos e fez uma correlação entre atendimentos psiquiátrico e psicológico.
“Primeiro ponto é a pessoa se permitir ser ajudada. Outro, é conseguirmos pessoas que queiram ajudar. Hoje em dia, infelizmente, muitos dizem que ouvir é perda de tempo e ser respeitoso é passar recibo de fraqueza. Deve constar na nossa essência o olhar nos olhos. Quando fazemos, expressamos o que temos de melhor dentro da gente, para o outro. Destaco também a importância dos acompanhamentos psiquiátricos e psicológicos. Qual devo procurar? Procure os dois. Existem patologias que geram alterações cerebrais, como esquizofrenia, transtornos de humor e quadros delirantes e que são apenas controladas com medicamentos. Outras patologias são sentimentos internos que precisam ser desmembrados por quem sabe ouvir, falar e analisar, como os psicólogos. O profissional de saúde que vê estes cenários fragmentados, vai ter dificuldade. É necessário sermos mais humanos e lidarmos com as fragilidades”, explicou Marcos, que relatou uma inquietação.
“Hoje em dia a família não conversa mais. Deixamos de lado aquele café da manhã, o olhar. O celular veio para fazer a descontrução dos relacionamentos. É preciso ter uma mudança de hábito, de pensamento e sermos mais resilientes, pois muitos casos de suicídio acontecem porque os familiares não conseguiram identificar a fragilidade durante o convívio”, alertou.
CVV
O CVV — Centro de Valorização da Vida, fundado em São Paulo, em 1962, é uma associação civil sem fins lucrativos, filantrópica, reconhecida como de Utilidade Pública Federal, desde 1973. Presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo.
Os contatos com o CVV são feitos pelo telefone 188 (24 horas e sem custo de ligação), pessoalmente (nos mais de 120 postos de atendimento) ou pelo site www.cvv.org.br.