Intercooperação para inovar: conheça 12 oportunidades de parcerias

A intercooperação é uma estratégia fundamental para o desenvolvimento das cooperativas e do modelo cooperativista como um todo. Dada a sua importância, essa competência foi eleita como uma das duas diretrizes estratégicas de inovação prioritárias do 15° Congresso Brasileiro do Cooperativismo (CBC).

Portanto, a intercooperação é uma tática que merece atenção, já que pode ajudar no crescimento dos negócios e reduzir custos com tecnologia. Segundo a Pesquisa de Inovação no Cooperativismo Brasileiro, a falta de recursos é uma das principais barreiras para inovar.

Nesse quesito, a intercooperação se apresenta como uma alternativa interessante, tendo em vista que duas ou mais cooperativas unem forças para buscar soluções de um problema comum ou complementar.

A intercooperação como princípio fundamentado do cooperativismo

Vale lembrar que a intercooperação é o sexto princípio do cooperativismo, e propõe a união das cooperativas em prol do desenvolvimento individual e coletivo. Essa estratégia envolve a parceria entre coops em níveis regionais, nacionais e até internacionais.

Assim, as cooperativas conseguem trocar a concorrência pela cooperação. Além da vantagem de mercado, a intercooperação permite o compartilhamento de tecnologias, impulsionando o desenvolvimento. Consequentemente, melhores resultados são oferecidos aos cooperados, atingindo outro princípio cooperativista: o interesse pela comunidade.

12 benefícios e oportunidades de intercooperação para inovar

A intercooperação foi eleita como motor da inovação por um motivo: ela é uma grande aliada quando o assunto são soluções inovadoras. Existem diversos benefícios trazidos pelo trabalho conjunto entre cooperativas, que devem ser explorados ao máximo. Inclusive, já abordamos o tema aqui no InovaCoop.

Mas agora, de forma mais prática, listamos 12 benefícios reais – e também oportunidades – para as cooperativas apostarem na intercooperação. Confira a seguir!

  • 1. Unir forças para enfrentar problemas comuns e complementares

Muitas vezes existem problemas de mercado que são enfrentados por diversas cooperativas. Ao invés de buscarem soluções individuais, as organizações podem se apoiar e pensar juntas em respostas disruptivas.

E esse é um dos principais objetivos da intercooperação: a união de forças para superar desafios. A convergência de recursos e propósitos é uma ótima maneira de enfrentar problemas comuns ou até complementares.

  • 2. Escalar soluções tecnológicas

Em um mundo regido pela tecnologia, é importante se manter atualizado quanto às soluções digitais. Porém, o desenvolvimento de recursos tecnológicos é caro e pode estar fora da realidade de muitas cooperativas. Nesse cenário, a intercooperação pode ajudar as cooperativas a se manterem por dentro do mercado, com resultados pautados em tecnologias.

Esse é o caso da cooperativa francesa CoopCycle, que desenvolveu um aplicativo de entregas que pode ser utilizado por outras coops associadas. Portanto, se um determinado grupo de entregadores resolver criar uma cooperativa, não é necessário pensar em uma plataforma do zero. Basta se filiar e utilizar a plataforma francesa, além de receber assessoria jurídica.

A iniciativa, que já conta com 67 cooperativas associadas em sete países diferentes, atuando na Europa, na América do Norte e na Austrália. Um exemplo de cooperativa associada é a Mensakas, que atua com modelo de entrega por meio de bicicletas de carga e foca, principalmente, na entrega de alimentos e outros produtos das redes de economia solidária, priorizando comerciantes e produtores locais.

  • 3. Fazer negócios com organizações que compartilham dos mesmos princípios

Antes de começar um projeto de intercooperação, é importante se atentar a algumas características das outras organizações. Conhecer os valores e princípios da cooperativa parceira é essencial para garantir que os ideais de ambas as partes estejam alinhados.

Ter princípios e objetivos de acordo com os da cooperativa parceira é fundamental, já que garante resultados mais condizentes com o esperado. Além disso, os valores de uma marca estão totalmente ligados à forma com que ela é percebida no mercado e pelos clientes e cooperados. Por isso, é importante manter suas convicções, independente da parceria, visando manter seu público e seu espaço no mercado.

Por outro lado, estar conectado à cooperativas que compartilham dos mesmos valores pode ser extremamente positivo. Por meio da intercooperação, você pode atingir novos mercados e públicos que compactuam com os princípios da sua marca.

  • 4. Aumentar a competitividade em setores concorridos

Em um mercado tão disputado, muitas vezes as cooperativas acabam competindo em algumas frentes. Isso não apenas prejudica as organizações individualmente, como também o cooperativismo como um todo. A intercooperação pode ajudar nesse quesito: trabalhando juntas, as cooperativas se unem para atingir um mesmo público-alvo, ao invés de competirem.

As cooperativas Castrolanda, Frísia e Capal atuavam de maneira independente uma das outras nos mercados de leite e derivados lácteos, produção e comercialização de carne de suínos e produção de trigo. Assim, eram concorrentes em algumas frentes. Por atuarem de forma isolada entre si, tinham também recursos limitados para destinar a investimentos em pesquisa e em novas tecnologias.

Criada em 2017, a Unium é resultado da união entre as três coops. O modelo de intercooperação proporcionou um aumento anual de cerca de 20% no faturamento conjunto das organizações. Em 2020, em plena pandemia, a marca Unium completou três anos, faturando anualmente cerca de R$ 7 bilhões.

  • 5. Fortalecimento da economia local

A intercooperação também proporciona um fortalecimento da economia local. A união das cooperativas no mercado ao invés da competição, permite que todas as organizações envolvidas sejam beneficiadas. Além disso, com parcerias as coops economizam recursos e gastos desnecessários.

Outro ponto importante é que, unidas, as organizações conseguem aumentar a qualidade e a gama de produtos oferecidos. Dessa forma, os consumidores podem encontrar tudo o que precisam com as cooperativas, sem precisar recorrer a outros mercados.

  • 6. Solucionar problemas multidisciplinares

Alguns problemas não podem ser resolvidos sozinhos – mas com a ajuda de outras pessoas, superar o desafio se torna mais fácil. Esse é um dos benefícios da intercooperação: juntas, as cooperativas conseguem unir esforços para encontrar soluções inovadoras para contratempos que pareciam não ter saída.

Situada à altura do Círculo Polar Ártico, Rovaniemi, na Finlândia, é uma das cidades mais setentrionais do planeta. A pequena população de 59 mil habitantes tinha limitado acesso a serviços tecnológicos. Neste contexto, vinte cooperativas de 31 cidades da região aderiram ao projeto Fiber to the North, para construir uma estrutura de fibra óptica e levar internet de alta velocidade ao norte da Finlândia. Uma cooperativa de segundo grau foi criada, a Sieppi Verko, e 3 mil famílias já foram beneficiadas.

  • 7. Gerar modelos de negócios inovadores

Na busca por novos modelos de negócios, a intercooperação pode ser uma boa ideia. Muitas cooperativas decidem se unir para expandir sua área de atuação e conquistar mercados até então inexplorados por ambas as marcas.

A cooperativa agropecuária Nater Coop, em intercooperação com a Coopetranserrana, lançou no fim de 2023 a marca Vexgo para atuar no transporte de cargas, um setor em que nenhuma das duas estava presente até então.

A Vexgo otimizou a logística da Nater Coop tanto na entrega de insumos aos produtores quanto no escoamento da produção e levou à expansão da receita e do número de cooperados da Coopetranserrana, que entre 2022 e 2023 cresceu em 54%.

  • 8. Financiar projetos de sustentabilidade

Com a deterioração das condições climáticas e o esgotamento dos recursos naturais, a sustentabilidade se tornou um tópico em alta na sociedade e na mídia. Além de ser importante para a preservação ambiental, uma cooperativa que se preocupa em garantir que suas ações sejam sustentáveis também constrói uma boa imagem perante a comunidade. E a intercooperação pode ser uma ótima alternativa para implementar a sustentabilidade nas organizações.

A Certel firmou parceria com cooperativas do Sicredi para financiar a nova hidrelétrica Vale do Leite. O objetivo era fortalecer cada vez mais a prestação do serviço de distribuição de energia e promover a qualidade de vida dos associados através da ampliação da geração de energia renovável e limpa.

O financiamento com o Sistema Sicredi trouxe flexibilidade e agilidade nos processos administrativos. Com a nova hidrelétrica, a soma das potências de geração de energia do grupo Certel atinge 25,45 MW, podendo atender a 76.300 pessoas. A iniciativa, chamada “A energia que nos une”, venceu a categoria de Intercooperação do prêmio SomosCoop 2020.

  • 9. Oferecer novos serviços para cooperados e clientes

Ampliar o portfólio de produtos pode ser decisivo no desenvolvimento de uma cooperativa. Muitas vezes, oferecer uma gama maior de serviços se torna uma vantagem competitiva importante para que a organização se destaque no mercado.

Por meio da intercooperação, as coops são capazes de contar com o máximo de recursos e desenvolver novos projetos e tecnologias. Assim, as organizações podem criar produtos inéditos e oferecer serviços cada vez melhores aos cooperados e clientes.

  • 10. Ampliar capacidade de pesquisa e desenvolvimento

No âmbito de ajudar no desenvolvimento da organização, a intercooperação também pode ser utilizada para ampliar a capacidade de pesquisa. Muitas cooperativas decidem unir forças a fim de realizar pesquisas e estudos que possam ajudar no avanço do setor como um todo.

A Fundação ABC é um instituto de pesquisa agropecuária privado mantido pela intercooperação de mais de 5 mil cooperados de Frísia, Castrolanda e Capal. O objetivo da instituição é desenvolver e adaptar novas tecnologias para o agronegócio, dando apoio aos seus associados. E um de seus mais recentes desafios é lidar com a ebulição da inovação no campo.

Com tanta novidade chegando e de forma cada vez mais rápida, as dúvidas começaram a surgir, agravadas pela profusão de termos ainda desconhecidos por parte dos produtores rurais, como imagens multiespectrais, big data e machine learning, por exemplo. Neste contexto, a Fundação ABC surgiu como uma maneira de apoiar os seus associados.

  • 11. Fortalecer um ecossistema de inovação cooperativista

Fortalecer um ecossistema de inovação cooperativista depende da intercooperação, que permite que as organizações compartilhem recursos e conhecimentos para criar soluções disruptivas. Ao colaborar, as cooperativas conseguem explorar novas oportunidades, aproveitando a diversidade de experiências para melhorar a eficiência e promover novas ideias.

Além disso, a intercooperação proporciona a troca de técnicas e o desenvolvimento conjunto de projetos, estimulando um ambiente de apoio entre as organizações. Isso resulta em um ecossistema mais dinâmico, capaz de se adaptar e liderar a inovação de forma sustentável.

  • 12. Impulsionar a atuação tecnológica das cooperativas

A intercooperação permite que as organizações compartilhem estratégias e recursos, inclusive tecnológicos. A partir da união, as cooperativas são capazes de investir em pesquisas e se desenvolverem mais tecnologicamente.

Todos os atendimentos feitos por profissionais da Unifop, por exemplo, eram realizados de forma convencional. Ou seja, presencial, em consultório. No entanto, quando a pandemia começou, todas as atividades presenciais que aconteciam nas dependências relacionadas à cooperativa tiveram que ser suspensas de imediato.

Para contornar a situação, garantindo a segurança das pessoas e o faturamento da cooperativa, foram feitos investimentos em tecnologia para criar o canal de telessaúde, em parceria com a Libre Code. O resultado mais evidente da iniciativa foi a viabilização do atendimento a distância para os pacientes cooperados à Unifop, proporcionando a continuidade de tratamentos e também do faturamento por parte dos profissionais e da própria cooperativa.

Conclusão

Além de acordar com os princípios cooperativistas, a intercooperação é uma ótima maneira de fomentar a inovação nas organizações. Por meio da troca de experiências e recursos, as cooperativas conseguem desenvolver soluções inovadoras para problemas comuns ou até complementares.

Muitas cooperativas já adotaram a intercooperação e outras iniciativas visando adotar estratégias inovadoras. Se a sua organização já implementou um projeto que engloba inovação, usando a tática da intercooperação ou outra, você pode dividir essa experiência conosco.

Por meio do preenchimento deste formulário, você pode compartilhar o conhecimento e a vivência da sua cooperativa com o InovaCoop. Assim, nós podemos divulgar seu case, visando disseminar e incentivar práticas de inovação em outras coops. Até porque a cooperação nos deixa mais fortes para avançarmos juntos!

Fonte: Inovacoop

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Richard Hollanda

Analista de Comunicação e Tecnologia do Sistema OCB/RJ. Graduado em Jornalismo pela Universidade Veiga de Almeida (UVA) e pós-graduado em Administração em Marketing e Comunicação Empresarial pela UVA.