Inovação em seguros: como as cooperativas devem se preparar para esse mercado

Em janeiro, a Lei Complementar 213/2025, que regulamenta a ampliação da participação das cooperativas no mercado de seguros, foi sancionada pela Presidência da República. Para que as cooperativas possam começar a atuar no setor, ainda é necessário que haja regulamentação. Mas já é importante ficar atento às inovações em seguros na busca por oportunidades!

Na prática, a nova legislação estabelece um marco regulatório para cooperativas de seguros e associações de proteção patrimonial, inserindo-as no Sistema Nacional de Seguros Privados e ampliando o alcance de supervisão da Superintendência de Seguros Privados (Susep).

Diante desse novo mercado que se abre para o cooperativismo, é importante ficar por dentro de como está a inovação no setor de seguros, quais são as novas oportunidades para inovar e como o segmento está lidando com as tecnologias emergentes. Aproveite a leitura!

O setor de seguros no Brasil

Em 2024, o setor de seguros no Brasil cresceu 12,2% em comparação ao ano anterior, indicam os dados publicados pela Susep.  A arrecadação do setor supervisionado em 2024 foi de R$ 435,56 bilhões. Desse valor, R$ 241,42 bilhões retornaram à sociedade por meio de indenizações, resgates, benefícios e sorteios – 6% a mais do que em 2023.

Para 2025, a expectativa segue otimista: a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) estima um crescimento de 10,1% do setor segurador. A entidade também estima que o setor segurador terá uma participação de 6,4% no PIB nacional até o final do ano.

As cooperativas no mercado de seguros

As cooperativas de seguros são comuns no mundo. A Federação Internacional de Cooperativas e Seguros Mútuos (ICMIF), entidade que representa o setor, reúne mais de 200 organizações de quase 80 países. Juntas, elas somavam mais de US$ 1,7 trilhão em 2023, gerando cerca de 230 mil empregos. O Brasil, agora, vai entrar nesse mapa.

No Brasil, a nova lei deve ampliar em até 15% o mercado brasileiro de seguros, com especial impacto na proteção de automóveis. Atualmente, apenas 30% da frota nacional de veículos é segurada. Além disso, as cooperativas de seguros, assim como acontece com as de crédito, poderão ocupar regiões desassistidas pelas seguradoras tradicionais.

O texto possibilita que as cooperativas operem em todos os ramos de seguros privados, exceto capitalização aberta e repartição de capitais de cobertura. “Este é mais um setor em que as cooperativas passam a atuar a partir de agora e que, com certeza, terá resultados muito positivos em um futuro próximo”, explica Fabíola Nader Motta, gerente-geral do Sistema OCB.

Panorama da inovação em seguros

A pesquisa KPMG 2024 CEO Outlook Seguros, que ouviu 120 CEOs de 11 países, mostra que o setor de seguros está passando por um processo acelerado de transformação digital. Diante disso, o mercado vive um momento em que precisa olhar atentamente para a inovação – e é isso que acontece no Brasil.

1º Estudo sobre a Inovação no Mercado de Seguros, Saúde, Previdência Complementar Aberta e Capitalização no Brasil, publicado pela CNSeg em dezembro de 2024, mostra que a inovação no setor é descentralizada. Mas isso não significa que não exista liderança: de cada dez organizações, 6 têm um líder executivo responsável pela inovação.

Oito a cada dez executivos entrevistados dizem que suas organizações possuem métodos bem estabelecidos para estruturar e mensurar a inovação. Para 92% deles, a inovação acontece de maneira colaborativa com o mercado.

Na grande maioria das jornadas de inovação – seja em relação a produtos, serviços, processos ou tecnologia -, iniciativas inovadoras ocorrem de forma estruturada em programas de desenvolvimento. Além disso, existe mensuração dos resultados obtidos. Os principais parceiros para a inovação aberta no setor de seguros são:

  • Startups (insurtechs, fintechs, healthtechs e HRtechs)
  • Outras seguradoras
  • Fábricas de software
  • Consultorias
  • Hubs de inovação
  • Fundos de Venture Capital
  • Hackatons abertos
  • Institutos de pesquisa e universidades

Regulação e inovação em seguros

O setor de seguros é regulado e, segundo a pesquisa da CNSeg, a inovação nasce a despeito da regulação, que é citada como o 3° maior obstáculo para as iniciativas inovadoras no setor de seguros. Por outro lado, a Lei do Bem é uma grande aliada: apenas 8% das organizações do segmento não a utilizam, mas têm intenção de empregá-la no futuro.

A visão dos executivos sobre o open insurance é bastante dividida. Ao todo, 56% dos participantes têm uma visão positiva sobre a relação do sistema aberto de seguros e a inovação de suas organizações. Por outro lado, 46% consideram que suas empresas atuam somente para atender as demandas regulatórias.

Investimentos na inovação em seguros

O estudo projeta que as seguradoras investiram R$ 20 bilhões em 2024. Os investimentos em inovação em relação à arrecadação mostram bastante variedade, mas 88% das organizações estão nas faixas entre menos de 1% e 4%. Por outro lado, 8% delas direcionaram entre 5 e 10% às iniciativas inovadoras – o restante não respondeu.

Em 2024, 71% das organizações planejavam aumentar o investimento em inovação em relação ao ano anterior e apenas 4% reduziram a verba. Além disso, as empresas com capital nacional investiram proporcionalmente mais em inovação do que as que têm capital estrangeiro.

Onde o setor de seguros inova

Ao contabilizar as iniciativas inovadoras implementadas pelo segmento entre 2023 e o primeiro semestre de 2024, a CNSeg apurou que as seguradoras focam seus esforços sobretudo em gestão de distribuição, backoffice e atendimento ao cliente. Gestão de produtos, experiência de sinistro e emissão são outros temas relevantes.

Já as principais categorias de inovação que geram diferencial são:

  • Automação e agilidade com IA: com o objetivo de otimizar sinistros, emissão de apólices e atendimento ao cliente, a fim de reduzir custos e melhorar a eficiência operacional.
  • Inovação em produtos e serviços digitais: são produtos inovadores que atendem novas demandas do mercado, plataformas digitais – como aplicativos – e melhorias incrementais para melhorar a experiência do cliente.
  • Dados e insights: uso de dados para precificação inteligente e governança de dados. Permite tomar decisões mais rápidas, precisas e personalizadas.

Como inovar no mercado de seguros

Diante das grandes mudanças pelas quais o mercado securitário está passando, o relatório O futuro do setor de seguros: oportunidades e desafios do mercado, da consultoria PwC, a análise sobre as perspectivas setoriais da Deloitte e o panorama global da KPMG indicam caminhos para a inovação.

Inteligência artificial

Ao todo, 68% dos CEOs do setor securitário global ouvidos pela KPMG consideram a inteligência artificial generativa uma grande ameaça para o crescimento dos negócios nos próximos anos, mas 81% concordam que o investimento em IA é uma prioridade alta, mesmo diante das incertezas econômicas. Os principais usos da IA no setor são:

  • Acelerar análises de dados
  • Detectar fraudes e responder a ataques cibernéticos
  • Melhorar a eficiência e a produtividade
  • Aumentar a lucratividade
  • Desenvolver a força de trabalho para o futuro

Deloitte argumenta que a inteligência artificial generativa está se tornando essencial para o setor de seguros e as seguradoras que não a adotarem correm o risco de ficar para trás.  Embora muitas organizações ainda estejam na fase de prova de conceito, algumas já começaram a integrar a IA generativa em áreas prioritárias, visando ganhos de risco-recompensa e escalabilidade.

Para uma implementação bem-sucedida, as seguradoras precisam se concentrar na qualidade dos dados, governança e métricas de sucesso claras. A arquitetura de data mesh e produtos de dados estão se tornando cada vez mais importantes para suportar a escalabilidade da IA. É crucial também garantir o uso responsável da IA, com foco na segurança, privacidade e transparência.

Atração de talentos para o futuro

A KPMG apurou que, na visão dos CEOs, a implementação de IA no setor não vai reduzir a quantidade de postos de trabalho – pelo contrário, 93% deles esperam ampliar a força de trabalho nos próximos três anos. Existe, sim, o temor de que a falta de talentos tenha impactos negativos nos negócios.

Os avanços de IA, afinal, resultam tanto do investimento em tecnologia quanto em talento e cultura. Pesquisas indicam que as seguradoras se sentem menos preparadas em termos de talento e habilidades para a adoção da IA.

Como resposta, estão repensando suas estratégias de talento, priorizando candidatos com conhecimentos digitais e de IA, além de habilidades humanas como empatia e pensamento analítico.

Para atrair os jovens talentosos e capazes de inovar, as seguradoras estão tentando se destacar com base em seus propósitos e na experiência dos funcionários. Ademais, elas também estão apostando no desenvolvimento e treinamento de seus funcionários atuais.

Reinvenção do negócio com foco no cliente

A PwC ressalta que os clientes estão exigindo mais das seguradoras, buscando experiências descomplicadas, personalizadas e eficientes. Nesse cenário, a falta de atenção a essas expectativas resulta em insatisfação e perda de clientes.

Priorizar o cliente, portanto, vai além da satisfação, tornando-se uma estratégia crucial para o crescimento e reinvenção do setor. As seguradoras devem investir em compreensão, engajamento e aconselhamento, monitorando riscos em tempo real e prevenindo sinistros.

Essa mudança exige uma transformação abrangente, com reformulação dos modelos de negócios e operacionais, adaptação da cultura corporativa, aprimoramento de recursos humanos e tecnológicos e expansão de parcerias.

Ao colocar o cliente no centro, as seguradoras podem impulsionar o crescimento com lucratividade, reduzir sinistros, gerar novas receitas, fortalecer a imagem da marca e fidelizar clientes.

Tecnologia em prol da estratégia

Muitas seguradoras ainda operam com sistemas desintegrados, o que prejudica a eficiência, a experiência do cliente e os resultados, apesar dos investimentos em tecnologia. A falta de integração entre as diferentes áreas impede que as seguradoras aproveitem ao máximo as vantagens da transformação digital, criando “reinvenções” isoladas e ineficazes.

Nesse contexto, aponta a PwC, a migração para sistemas em nuvem é importante, mas deve servir como ferramenta para uma integração completa. Ela deve acelerar o tempo de lançamento no mercado e transformar a área de TI em um motor estratégico.

Uma organização genuinamente orientada pela tecnologia extrai o máximo valor de seus investimentos, adaptando-se rapidamente à inovação, alcançando escala e reduzindo custos. Essa agilidade é fundamental para o sucesso de novas tecnologias, que exigem uma infraestrutura robusta e integrada para serem eficazes. É o caso da inteligência artificial, por exemplo.

Dos dados ao atendimento

Os líderes responsáveis pela tecnologia têm um papel crucial em destacar a importância dos dados como base para qualquer iniciativa digital. Utilizar um chatbot para autoatendimento, por exemplo, só será eficaz se houver uma fonte de dados centralizada e confiável para alimentar a interação com o cliente.

A qualidade da experiência digital depende diretamente da qualidade dos dados que a sustentam. Investir em dados não é apenas uma questão tecnológica, mas um fator estratégico para o sucesso de qualquer iniciativa voltada ao cliente.

Essa mentalidade orientada a dados também é essencial em outras áreas, como a tributária. As novas regras do Pilar Dois da OCDE exigem uma gestão de dados eficiente para garantir o compliance e a confiança dos stakeholders. Uma abordagem tecnológica que priorize os dados permite aprimorar a estratégia fiscal, assegurar o cumprimento das normas e fortalecer a relação com os stakeholders.

Inovação sustentável

A KPMG mostra que os CEOs do setor de seguros permanecem comprometidos com a agenda ESG, mas vivem um momento de realinhamento de expectativas. Para eles, iniciativas ESG são oportunidades de construir relacionamentos com clientes e fortalecer a marca.

Nesse mesmo sentido, a PwC argumenta que as seguradoras precisam ajudar a sociedade a lidar com riscos climáticos cada vez mais intensos e severos que afetam as propriedades e a saúde. As mudanças climáticas, afinal, representam uma grande ameaça ao setor de seguros.

Para a consultoria, há oportunidades de inovar na agenda ESG por meio do desenvolvimento de novos produtos e serviços capazes de habilitar o crescimento do mercado de baixo carbono. Algumas ideias são, por exemplo:

  1. Entrada em novos mercados, como energia limpa e tecnologia climática.
  2. Fornecimento de melhorias de cobertura para edifícios verdes.
  3. Oferta de serviços de modelagem das emissões e de gestão de riscos climáticos.

Conclusão: o caminho da inovação em seguros

O setor de seguros vive um momento de transição e adoção de novas tecnologias em busca de produtividade. Nesse cenário, a KPMG indica recomendações para quem quer suceder nesse mercado:

  • Tenha ousadia: grandes objetivos requerem audácia. A inovação em seguros passa por transformar processos, fluxos de trabalho e modelos operacionais.
  • Cultura para atrair talentos: a fim de atrair e reter talentos, é necessário entregar valor aos colaboradores por meio de uma cultura adequada às novas gerações;
  • Redirecione custos: não basta investir no back office; também é importante direcionar verba para melhorar a experiência do cliente e gerar valor no atendimento.
  • Seja flexível: diante das mudanças estruturais no mundo, as seguradoras precisam ter flexibilidade e agilidade para se adaptarem às novas tecnologias e expectativas dos clientes.

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Conteúdo desenvolvido
em parceria com

Foto de Richard Hollanda

Richard Hollanda

Analista de Comunicação e Tecnologia do Sistema OCB/RJ. Graduado em Jornalismo pela Universidade Veiga de Almeida (UVA) e pós-graduado em Administração em Marketing e Comunicação Empresarial pela UVA.