“O cooperativismo de plataforma será um impulsionador do processo de intercooperação”, diz Abdul Nasser à Revista MundoCoop

O superintendente do Sescoop/RJ, Abdul Nasser, foi um dos entrevistados da Revista Mundo Coop, edição 101, veiculada este mês e que tratou em uma das matérias o cooperativismo de plataforma e as potencialidades que essa ferramenta oferece de forma democrática para ser uma alternativa no combate à precarização do trabalho.

Segundo Abdul, a economia digital cresceu ainda mais a partir do momento em que a sociedade precisou buscar por novas opções no mercado de trabalho, devido à pandemia da Covid-19, que provocou o fechamento de muitos negócios ou reduções das equipes.

Ele também ressaltou que para moldar uma cooperativa de plataforma não basta apenas criar um aplicativo. É necessária uma grande estrutura em que o papel central seja uma governança democrática, que exerça uma noção de trabalho justo e decente, para, a partir daí, abrir margens para as construções tecnológicas.

Abdul ainda explicou que a intercooperação é o melhor caminho para as cooperativas de plataforma enfrentarem as grandes plataformas já consolidadas no mercado.

“Por incrível que pareça, muitas cooperativas não conseguem perceber as oportunidades desse princípio e o cooperativismo de plataforma pode servir muito bem para isso, na medida que se conectaria às necessidades e às oportunidades de diversas cooperativas, não só no âmbito local, mas até mundial. Acredito que o cooperativismo de plataforma tende a ser um impulsionador do processo de intercooperação e isso vai ser natural dentro do processo”, disse.

Outro ponto destacado por Abdul foi sobre o valor compartilhado, pois as plataformas cooperativas oferecem o produto ou o serviço, porém, quem gera o valor da plataforma é a comunidade onde ela está inserida.

“A economia compartilhada gera a democratização dos bens e dos riscos, mas privatiza os resultados e tende ao monopólio e a um controle gigantesco de mercado.As pessoas não queriam isso no início desse processo e agora elas estão descobrindo o cooperativismo como uma alternativa que compartilha os resultados”, reforçou Abdul.

Sobre os desafios do cooperativismo de plataforma, Abdul faz um alerta: “As pessoas precisam acordar para o fato de que o único caminho para uma liberdade econômica, para um modelo justo e democrático, é aquele em que todos participam de tudo e que são donos do processo. Elas precisam perceber que estamos vivendo mais do mesmo, com grandes dominações, e começar a acreditar que o cooperativismo de plataforma é uma alternativa”.

Abdul também ressalta que se o cooperativismo de plataforma e todas a suas características vantajosas forem acessadas em larga escala, seu impacto na sociedade será sem precedentes. “Talvez seja o caminho mais rápido para o cooperativismo, enquanto sistema econômico, se disseminar em grande escala pelo mundo”, acrescenta.

Rio de Janeiro

Abdul enxerga o  Rio de Janeiro com muito potencial para o crescimento do cooperativismo de plataforma. De acordo com ele, o estado é conhecido como epicentro turístico, sendo um dos locais com maior número de serviços e cooperativas de taxi no Brasil e as primeiras  a verem o movimento “uberizado” se aproximar e enxergar – com o auxílio da OCB/RJ– a necessidade de se ajustar à nova realidade e concorrência.

“A inovação é para nós um ponto de atenção, oportunidade e de antecipação, porque isso vai avançar em todos os mercados, é uma questão de sobrevivência. É importante demais fomentar a inovação, criar uma cultura de inovação, acordar as nossas cooperativas para esse ponto”, relatou.

Segundo ele, com esse despertar para o novo, fruto das mudanças em andamento, o estado do Rio de Janeiro se tornou uma referência. “A população precisa conhecer mais e isso talvez não seja uma barreira não só do cooperativismo de plataforma, mas do próprio cooperativismo. E nós aqui no Rio estamos investindo muito forte nisso”, frisa Abdul.

Hacking Rio

Uma das iniciativas que vem chamando atenção é o crescente incentivo e participação do Sistema OCB/RJ em megaeventos como o Hacking.Rio, maior Hackathon  da América Latina, levando assim a pauta cooperativista para mais e mais pessoas.

“Plantamos a semente para trazer os empreendedores digitais para o cooperativismo e para botar o cooperativismo no rol de possibilidades do empreendedor digital. E essa é a forma, talvez, de uma barreira que estamos tentando vencer e que precisa ser ultrapassada”, completa Abdul.

Entrevistados

Também participaram da matéria: Rafael Grohman, professor do Mestrado e Doutorado em Comunicação da UNISINOS e coordenador do Laboratório de Pesquisa DigiLabour; e Mario de Conto, Doutor em Direito e coordenador do Projeto de Pesquisa “Cooperativas de Plataforma e Ambiente Jurídico”.

Com informações  Revista MundoCoop, edição 101

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Bruno Oliveira

Coordenador de Comunicação e de Tecnologia da Informação do Sistema OCB/RJ.