O cooperativismo tem sido visto como porta de entrada para que agricultores consigam gerar créditos de carbono e se beneficiar deste mercado, que ainda tem custos considerados elevados. Consultados por Globo Rural, especialistas dizem que continua caro fazer o cálculo do carbono no solo, mas as cooperativas podem facilitar a inserção de pequenos e médios produtores à medição.
No final do ano passado, o Projeto de Lei nº 412/2022 foi aprovado na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado (CAE), que recebeu parecer favorável do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). O texto prevê a criação do Sistema Brasileiro de Gestão de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBGE-GEE) para atender aos mercados regulado e voluntário, o que inclui a criação de mecanismos de mensuração, verificação e reporte, algo ainda oneroso para o bolso do produtor.
Segundo Marco Morato, coordenador de Meio Ambiente e Energia da Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), pequenos e médios produtores são ainda mais afetados pelo custo para homologar e registrar projetos de sequestro de carbono e depois obter o crédito correspondente. Por isso, ele diz, parte do papel da entidade é investir em capacitação do profissional do campo e assim haja interesse em desenvolver projetos piloto que depois ganham escala
O coordenador da OCB ainda observa que a expansão da internet no campo possibilitará a adoção de tecnologias que emitem menos CO2. Ele cita o exemplo do uso de drones para pulverização do café, cujo sensoriamento de pragas permite aplicação mais assertiva e contribui para a saúde do solo.
Além de sequestrar mais carbono, a tecnologia vai melhorar a qualidade do crédito. Com rastreabilidade, é possível ver que não tem compactação do solo, já que não há uso do pulverizador terrestre. “A digitalização do monitoramento, verificação e reporte vai ser o futuro e quanto mais rápido a gente acelerar este processo, mais gente conseguimos incluir nesse mercado de carbono”, complementa.
Marcelo Morandi, chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente, comenta que o mercado de carbono no Brasil está mais ligado ao setor florestal e restrito a alguns projetos. Para ele, o País vai continuar crescendo, mas ainda “há pequenos projetos nessa área, em função de custo, certificação e todo o processo”. Neste sentido, ele vê que “cooperativas de pequenos produtores podem unir áreas excedentes [de Reserva Legal] e gerar uma certificação conjunta”.
A própria restauração de florestas e outras vegetações nativas tem alto potencial de mitigação das emissões de gases de efeito estufa e aptidão para viabilizar o sequestro de CO2. Contudo, a questão financeira é desafiadora, com altos custos iniciais e o longo período necessário para o crescimento da biomassa. Consequentemente, a recuperação tem demorado a ganhar escala, com reflexo na robustez do mercado de carbono e a geração dos créditos.
Na avaliação de Rodrigo Spuri, diretor de conservação da The Nature Conservancy Brasil, mais esforços devem ser feitos para criar projetos de carbono agrupados que incentivem produtores a não desmatar a vegetação nativa além das exigências legais.
“Assim como é um grande fornecedor de commodities agrícolas, o Brasil também tem o potencial de ser grande gerador de crédito de carbono. É preciso reforçar práticas como ILPF [integração lavoura-pecuária-floresta], programas climáticos estaduais, até ganhar escala por cooperativas e associações de produtores”, diz Rodrigo.
Uma pesquisa realizada em parceria da Câmara de Comércio Internacional com a WayCarbon aponta que o potencial de geração de receitas com créditos de carbono até 2030 para o Brasil subiu de US$ 100 bi para até US$ 120 bi. O cálculo leva em conta o preço de US$ 100 dólares por tonelada, valor estipulado pela iniciativa Taskforce on Scaling Voluntary Carbon Markets (Força-tarefa para escalar mercados voluntários de carbono, em português).