Ao ser contratada em 2008 pela Cooperativa de Trabalho Educacional Escola Fribourg, de Nova Friburgo, para atuar como professora de Língua Portuguesa, Esther Ferreira Araújo sequer conhecia o cooperativismo. Três meses depois, tornou-se cooperada e expandiu suas atividades, passando a lecionar também inglês e espanhol.
Foi neste momento que viu no cooperativismo não apenas um modelo de negócios, mas um caminho que busca transformar a realidade das pessoas, gerando renda, trabalho e oportunidade para todos. “Comecei a estudar e me encantar com o segmento”, relata.
Em 2010, ingressou no Conselho Fiscal da cooperativa, para, no ano seguinte, assumir a presidência, cargo que ocupa até hoje.
“Eu tinha apenas 28 anos e sucedi dois presidentes que eram mais experientes e que tinham respeito e credibilidade junto ao público, o que tornou o trabalho ainda mais árduo, pois tive de vencer a desconfiança por conta da idade. Felizmente, recebi o apoio do nosso conselho administrativo, que era muito coeso e resiliente para superar os obstáculos”, relembra.
Assim começou a trajetória de Esther Araújo no cooperativismo. Hoje, aos 35 anos, está no segundo mandato à frente da Cooperativa Escola Fribourg, e acaba de ser nomeada pela nova diretoria do Sistema OCB/RJ como Representante Estadual do Ramo Educacional e conselheira de administração do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo do Estado do Rio de Janeiro (Sescoop/RJ).
“As cooperativas podem esperar comprometimento. Desejo estar à altura de representá-las e de buscar o que elas realmente precisam. Não estou nessa função para impor nada, estou para escutar e traçar, junto às demais cooperativas, caminhos de melhorias, maneiras de nos fortalecer e de intercooperar”, explica.
E experiências para vencer desafios ela traz no currículo. Em 2011, a cooperativa Escola Fribourg passava por uma situação delicada. Com poucos alunos e cooperados, o temor de fechar as portas era grande. Para agravar a situação, no mesmo ano, Nova Friburgo e outras três cidades da Região Serrana foram castigadas pelas chuvas que deixaram 506 mortos.
“Estávamos sem credibilidade no mercado, pois não possuíamos recursos para investir. Além disso, a tragédia causada pelas chuvas abalou muito a nossa comunidade”.
Nada disso, no entanto, diminuiu a confiança que Esther tinha em seu potencial e no da equipe. A única solução foi arregaçar as mangas e ir pessoalmente às ruas, em busca de novos alunos.
“Saímos para panfletar pelo bairro. Oferecemos 100 bolsas gratuitas à comunidade de Olaria, bairro que sedia a escola. A intenção era os alunos estudarem de graça neste primeiro ano, para que tivéssemos oportunidade de mostrar a qualidade do nosso trabalho, a fim de, no seguinte, investirem em nosso serviço. Foi desafiador e difícil convencer os pais e o grupo de cooperados de que essa era uma alternativa para não fecharmos as portas. No entanto, essas 100 vagas foram preenchidas e, apesar de ter sido árduo mantê-los gratuitamente na escola, no ano seguinte 80% dos beneficiados optaram por continuar conosco, pagando 50% da mensalidade. E assim conseguimos pouco a pouco nos reerguer. Atualmente temos 642 alunos de várias classes sociais e 100% de adesão dos cooperados. Quando paro para pensar no assunto, vejo que esse foi um dos momentos mais desafiadores, mas também uma das maiores conquistas do nosso conselho”, comenta.
E esta lição ela pretende levar para este novo desafio, que apesar de estar no início, já lhe dá indícios de que há muito trabalho pela frente.
“Vejo um distanciamento entre as cooperativas do ramo educacional. Cada uma em seu município. E aquelas que são próximas, acabam competindo. Acredito que falta uma união entre as educacionais, para se enxergarem como parceiras. O 6º princípio cooperativista, a Intercooperação, deve ser o nosso lema. Só assim conseguiremos nos fortalecer e mostrar a qualidade dos nossos serviços”, explica.
Mas o primeiro passo para iniciar um modelo de atuação à frente das educacionais será conhecer as suas realidades.
“Nesse primeiro momento eu gostaria de visitar todas as cooperativas educacionais e ouvi-las, trocar ideias. Eu quero entendê-las para representá-las da maneira como elas merecem”, explica.
E seguindo os conceitos que dão identidade ao cooperativismo, como cooperação, transformação e equilíbrio, Esther Araújo deixa uma mensagem às educacionais.
“Se quiser ir rápido, vá sozinho, se quiser ir longe, vá em grupo”. Acho que esta frase sintetiza um objetivo nesta nova função: o fortalecimento do ramo educacional como grupo unido e coeso.
Reportagem: Bruno Oliveira – Comunicação do Sistema OCB/RJ