Os Sistemas OCB e OCB/RJ realizaram ontem, dia 5 de setembro, na Casa do Cooperativismo Fluminense, o Seminário do Ramo Trabalho da Região Sudeste, destinado a cooperativas contempladas pela Lei nº 12.690/12.O evento teve como objetivo promover o diálogo entre os representantes do sistema cooperativista, com o intuito de apresentar a realidade do setor e mostrar os benefícios e resultados do cooperativismo ao trabalhador associado e à sociedade.
O evento – que reuniu cerca de 60 pessoas, entre dirigentes de cooperativas, representantes do Conselho Consultivo do Ramo Trabalho e colaboradores das Unidades Estaduais do Sistema OCB – debateu temas, como a Terceirização, Licitações e Contratos com a Administração pública e Direitos sociais da Lei 12.690/12. Também foram apresentados os principais desafios e oportunidades identificadas pelas cooperativas do ramo.
Papel do Sistema OCB
O evento foi iniciado com a apresentação institucional do Sistema OCB, feita pela analista da Gerencia Técnica e Econômica do Sistema OCB, Carla Bernardes de Souza. Em sua fala, ela apresentou os números do cooperativismo no Brasil e as funções específicas das três casas: Confederação Nacional das Cooperativas (Cncoop), Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop).
Em seguida, Elza Cançado, diretora de relacionamentos e negócios da Coopersystem e representante estadual do Ramo Trabalho no Distrito Federal destacou os trabalhos desenvolvidos pela cooperativa, especializada em TI, nas áreas de desenvolvimento, manutenção, sustentação, treinamento e auditoria de sistemas, desenvolvimento de sites, programas para web e sistemas de mainframe e suporte à infraestrutura de informática e de redes.
No espaço dedicado à cooperativa, ela apresentou o projeto TIVA. Ainda em modelo experimental, a iniciativa vislumbra aprimoramento do cooperativismo de trabalho. “Esse é um projeto que já está em testes e está buscando o aperfeiçoamento. A intenção é viabilizar a busca dos serviços oferecidos por smartphone, assim como a busca de trabalho. É o toque de modernidade que o segmento precisa”, disse.
Cases de Cooperativas da Região Sudeste
O diretor Administrativo da Cooperativa dos Produtores de Artigos de Ferramentaria (Coopifer), de São Paulo, Vanildo Cesar Biazotto, apresentou a história da cooperativa, seu objeto social, organograma, o quadro de cooperados e funcionários e sua política de qualidade, responsável por manter a cooperativa há 19 anos atuando forte no mercado.
Logo após, o diretor de marketing da Cooperativa de Trabalho dos Técnicos Industriais e Tecnólogos do Estado do Espírito Santo (Coopttec), Jamilson Machado, destacou as atividades da cooperativa, ligadas às áreas de gestão, capacitação, tecnologia, agronegócios e meio ambiente. Para superar os desafios de se manter competitiva no mercado, a cooperativa utiliza o lema: “Enquanto houver sonho, sempre haverá possibilidade”.
O presidente da Cooperativa de Trabalho dos Consultores e Instrutores de Formação Profissional, Promoção Social e Econômica (Coopifor), José Ailton Carvalho, falou sobre a missão e o objeto da cooperativa, que presta consultoria e instrutoria em geral e ainda assistência e extensão rural.
Sobre desafios e oportunidades, o presidente reforçou que pela qualificação dos 155 cooperados, o objetivo é ampliar a área de atuação da cooperativa para o ramo educacional.
Os cases do Rio de Janeiro ficaram por conta das Cooperativas Educacional Escola Fribourg e de Trabalho e Produção de Catadores de Materiais Recicláveis de Irajá (Coopfuturo).
A primeira atua no município de Nova Friburgo e hoje tem 216 alunos. O case de sucesso é marcado por uma história de superação, como contou a presidente Esther Araujo, que também é Conselheira de Administração do Sescoop-RJ e Representante Estadual do Ramo Educacional, junto à OCB/RJ.
Em 2011, a cooperativa Escola Fribourg passava por uma situação delicada. Com poucos alunos e cooperados, o temor de fechar as portas era grande. Para agravar a situação, no mesmo ano, Nova Friburgo e outras três cidades da Região Serrana foram castigadas pelas chuvas que deixaram 506 mortos.
Nada disso, no entanto, diminuiu a confiança que Esther tinha em seu potencial e no da equipe. A única solução foi arregaçar as mangas e ir pessoalmente às ruas, em busca de novos alunos.
“Saímos para panfletar pelo bairro. Oferecemos 100 bolsas gratuitas à comunidade de Olaria, bairro que sedia a escola. A intenção era os alunos estudarem de graça neste primeiro ano, para que tivéssemos oportunidade de mostrar a qualidade do nosso trabalho, a fim de, no seguinte, investirem em nosso serviço. Foi desafiador e difícil convencer os pais e o grupo de cooperados de que essa era uma alternativa para não fecharmos as portas. No entanto, essas 100 vagas foram preenchidas e, apesar de ter sido árduo mantê-los gratuitamente na escola, no ano seguinte 80% dos beneficiados optaram por continuar conosco, pagando 50% da mensalidade. E assim conseguimos pouco a pouco nos reerguer. Atualmente temos 642 alunos de várias classes sociais e 100% de adesão dos cooperados. Quando paro para pensar no assunto, vejo que esse foi um dos momentos mais desafiadores, mas também uma das maiores conquistas do nosso conselho”, comenta.
Já a Coopfuturo tem, hoje, 39 cooperados e, mensalmente, recolhe 230 toneladas de resíduos. Durante o Seminário, a presidente da cooperativa, Evelin Marcele, comentou como foi o desenvolvimento do trabalho nos últimos cinco e deu seu testemunho de como o cooperativismo mudou a vida dela e dos demais cooperados. “Não é fácil ser catador de material reciclável, mas o cooperativismo deu a dignidade que precisamos. Fazemos tudo da forma transparente e, hoje, os cooperados têm condições para fazer compras, pagar suas contas, entre outras questões”, comentou.
Lei 12.690/2012
No período da tarde, o Seminário Regional foi focado na Lei 12.690/2012. No painel Licitações e Contratos com a Administração Pública, o procurador do Estado do Rio de Janeiro, Flávio Amaral Garcia, abordou o fato de muitas cooperativas do segmento serem impedidas de participarem de licitações e sua inconstitucionalidade. Em seguida, o assessor jurídico da OCB/RJ, Dr. Ronaldo Gaudio, abordou a terceirização por cooperativa de trabalho após a reforma trabalhista.
Por fim, a analista da gerência jurídica da OCB, Milena Tawany Gil Cesar comentou os Direitos Sociais da Lei 12.690/2012, como a retirada mínima dos cooperados, o repouso anual remunerado e outros pontos. “É importante que o cooperado tenha em mente que ele não é um empregado. Esse é um fator que é um problema recorrente e que precisa ser sanado”, finalizou.
Debate e manifestação das cooperativas participantes
Na conclusão do evento, representantes de cooperativas debateram sobre os desafios e oportunidades do ramo Trabalho. Dentre os desafios apresentados, foram destacados: capacitação, pertencimento, dificuldade de mercado, a tributação e o fato da sociedade entender a cooperativa (e o modelo cooperativista).
Entre as oportunidades levantadas, foram apresentadas a capacitação, o treinamento, a intercooperação, o marketing e o trabalho junto ao poder público.
Avaliação do Seminário
O saldo do evento foi bastante positivo. O presidente do Sistema OCB/RJ, Vinicius Mesquita, destacou o fato do ramo Trabalho ser a solução para o combate das mazelas do país. “O Seminário foi um sucesso e acredito que quem participou saiu do evento com uma nova perspectiva para o segmento, pois essa era uma proposta do evento”, comentou o presidente, que anunciou a retomada dos trabalhos para a elaboração de uma cartilha de recomendações das cooperativas de trabalho, explicando para os fiscalizadores as especificidades do segmento.
A coordenadora do Conselho Consultivo do Ramo Trabalho e presidente da Fetrabalho/RS, Margaret Cunha, também falou do saldo positivo do evento. “Sabemos das dificuldades de cada região e o encontro foi importante para sabermos as demandas das cooperativas dos estados. Estamos fazendo a diferença”, disse.
O representante estadual do ramo Trabalho junto a OCB e secretário de finanças da OCB/RJ, Ildecir Sias, também comentou sobre o Seminário. “Foi um prazer o Rio de Janeiro sediar este evento. O segmento é muito forte e tem muitos desafios a serem implementados. As cooperativas foram as principais beneficiadas”, finalizou.
Visita técnica
Na quinta-feira, 6 de setembro, representantes do Conselho Consultivo do Ramo Trabalho visitaram a Cooperativa de Trabalho e Produção de Catadores de Materiais Recicláveis de Irajá (Coopfuturo). Lá, conheceram o espaço e o funcionamento da instituição.