Discutir alternativas para a redução dos juros bancários. Este foi o objetivo da audiência pública ocorrida no dia 20 de março, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal.
Questões como a concentração bancária, a dificuldade para portabilidade de crédito, as condutas anticompetitivas, o risco com a alta inadimplência e a falta de um cadastro positivo de clientes foram apontadas como fatores que justificam o spread bancário do Brasil – em torno de 39%, segundo maior do mundo.
O spread é a diferença entre a remuneração que o banco paga ao aplicador e o quanto a instituição cobra para emprestar o mesmo dinheiro. E a solução para reduzir esse indicador reside no Sistema Nacional de Crédito Cooperativo (SNCC), apresentado aos parlamentares e participantes da audiência pública como alternativa por Ênio Meinen, representante da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB).
Meinen destacou o cooperativismo financeiro como um dos mecanismos de organização socioeconômica e agente concorrencial no sistema bancário e informou que o SNCC tem, atualmente, mais de 12 milhões de beneficiários (entre cooperados e usuários não-cooperados), o equivalente ao número de clientes do Santander, quinto maior banco do país.
O cooperativista fez questão de destacar, ainda, três aspectos fundamentais que qualificam as cooperativas de crédito como sendo a alternativa mais viável para cidadãos e empreendedores, que desejam fugir do sistema bancário tradicional. São eles:
As cooperativas possuem uma precificação diferenciada. Grande parte do custo dos empréstimos e de outras operações e serviços bancários está ligada à necessidade de lucro dos acionistas. No caso das cooperativas de crédito isso não ocorre, pois elas atuam em favor de seus cooperados, que assumem a dupla condição de clientes e acionistas ao mesmo tempo. Logo, as margens são consideravelmente inferiores e, quanto menor o custo, melhor para os tomadores/usuários, ou seja, donos do negócio;
O SNCC possui um portfólio completo e compatível com as demandas de seus cooperados. Ou seja, as cooperativas de crédito atuam com todos os produtos e serviços dos grandes bancos de varejo, mas com uma precificação bem mais justa;
O processo de gestão nas cooperativas, tanto nas de crédito quanto nas demais, envolve a participação efetiva de seus cooperados. Desta forma, é possível decidir os rumos da instituição, com os benefícios desse processo de administração direta e evitando o habitual conflito de interesses entre o cliente (que quer pagar mais barato pelas operações) e o acionista (que se preocupa com o lucro advindo das operações). Isso, na cooperativa, não ocorre já que cliente e acionista (cooperado) são a mesma pessoa.
Segundo Ênio Meinen, o crescimento da carteira de crédito do SNCC foi de 80% nos últimos 5 anos – sem qualquer contração entre 2015 e 2017, anos de crise econômica mais aguda. Ênio lembrou ainda que apenas um dos integrantes do Sistema, o Sicoob, abriu 165 agências no ano passado e contratou cerca de duas mil pessoas, ao contrário de bancos tradicionais, que enxugaram seus pontos de atendimento e reduziram seu quadro de funcionários.
Outra informação que também chamou a atenção dos participantes da audiência pública foi o resultado de uma pesquisa realizada por Ênio Meinen. Ele explicou que, tomando o volume de negócios realizados no SNCC em 2017, e comparando os preços médios praticados nas cooperativas com os que seriam praticados pelos bancos nas mesmas operações, os associados, por contratarem com as próprias instituições financeiras (cooperativas), tiveram uma renda agregada ou uma economia na ordem de R$ 25 bilhões (aproximadamente R$ 2,5 mil por pessoa).
A audiência pública foi requerida pelo senador Armando Monteiro (PE), coordenador do grupo de trabalho que visa apresentar soluções alternativas para a redução dos juros na oferta de crédito. Na fase de debates, o senador Armando Monteiro (PE) disse ser preciso construir um sistema financeiro mais amigável e que estimule a energia empreendedora do brasileiro.
Na opinião dele, o país forma constantemente empreendedores que são desafiados a operar em condições bem desfavoráveis, num ambiente de negócio extremamente hostil. Ele criticou também as altas tarifas bancárias cobradas pelas instituições, dizendo que o Brasil está fora da curva nesse quesito. “Mesmo em segmentos sem risco, como o crédito consignado, há taxas de juros e spreads inexplicáveis. Há distorções imensas ainda que precisam ser combatidas”, afirmou.
A audiência pública também contou com a participação de representantes da União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços (Unecs), da Associação Brasileira de Instituições de Pagamento (Abipag), da consultoria Oliver Wyman e do senador José Pimentel (CE).
Fonte: Somos Cooperativismo/Sistema OCB, com informações da Agência Senado